terça-feira, 28 de julho de 2015

Viagem à União Soviética - Parte II

Publicamos agora o segundo texto da série que relata a viagem do bancário Asdrubal Assis à URSS. Assim como no texto anterior, está mantida a linguagem da época e a formatação do próprio Jornal do Bancário.

Jornal do Bancario, ano 3, Nº 4, 1962.


NA CAPITAL SOVIÉTICA

Asdrubal A. de Assis.

Ao saltarmos do avião um grupo de sindicalistas sovié-
ticos nos dá as boas vindas e noz conduz à sala de es-
pera do aeroporto, enquanto desembarcam nossa ba-
gagem. A comissão de recepção inclúe intérpretes de portu-
guês, que se põem à nossa disposição para os entendimentos
com os companheiros locais. Nosso grupo, composto de dife-
rentes categorias profissionais, será conduzido ao hotel por co-
merciários de Moscou que estão ali para nos acolher. Como
não temos "visto" soviético, deixamos nossos passaportes para
regularização e devolução posterior. Não passamos, porém, por
insepeção alfandegária.
No trajeto para a cidade, conversamos com os soviéticos
que nos acompanham no ônibus. O jornalista carioca que via-
jou conosco desde o Rio expõe à intérprete Ana seu plano de
uma série de reportagens focalizando aspectos da vida sovié-
tica. O papel da mulher na sociedade socialista, por exemplo,
lhe parece um tema fascinante. Confessa, em seguida, que jul-
ga a mulher soviética pouco feminina. Perguntam-lhe qual a
participação da mulher brasileira no movimento sindical e a
razão da ausência de mulheres na nossa delegação. Admite que
a mulher tem participação pouco ativa na política e no movi-
mento sindical, explicando que os encargos domésticos absor-
vem todo o seu tempo. As soviéticas presentes acham que isto
implica em reduzir a mulher a uma posição subalterna na
sociedade. A soviética é dona de casa e ao mesmo tempo cida-
dã interessada, tanto quanto o homem, nos problemas da atualidade.

Estamos agora entrando na cidade. As edificações se aden-
sam e ao longo da extensa avenida erguem-se grandes blocos
de apartamentos residenciais, com lojas no térreo. Os letreiros
em caracteres cirílicos passam velozes diante da vidraça do
ônibus fechado: Farmácia, Cabeleireiro; Mercearia; Calçados;
Moda Feminina, etc. As vitrines são bonitas, bem iluminadas
e há uma profusão de anúncios a gás néon. Cruzamos agora
uma ponte e entramos na zona urbana propriamente dita. Lo-
go estamos no centro e nos apeando diante do "Hotel Moscou"
em cujo "hall" funciona o comité de credenciais do V
Congresso Sindical Mundial, conclave que nos trouxe a Moscou.

Dentro de meia hora, já munidos de cartão de identidade,
pasta de congressista, etc. seguimos para o "Hotal Budapest",
também no centro da cidade, não muito distante do "Teatro
Bolshoi", segundo verifico depois. Lá já nos espera nossa ba-
gagem e distribuimo-nos pelos aposentos que nos foram reser-
vados. A ordem é descer dentro de poucos minutos para jantar.

Desço portualmente e me encaminho para a sala de re-
feições, grande, com colunas decoradas com dourados e lustres
de cristal pendentes do teto. Uma orquestra toca música de
dança. Garçons circulam entre as mesas. A delegação brasilei-
ra ocupa varias, juntas, formando uma única mesa comprida.
O jantar, servido "à table d'hôte", inclue vários pratos: anti-
paspo, sopa, paixe, assados e sobremesa. Sôbre as mesas, fru-
teiras de pé, em vidro colorido, cheias de maçãs e tangerinas,
ambas pequenas. Pão branco, manteiga, água mineral, gasosas
de frutas, vinho branco da Georgia, tinto da Criméia, e vodka
em pequenos cálices completam o cardápio com que somos
recebidos em nossa primeira noite em Moscou. Noto que a
vodka não é servida na garrafa original, nem diretamente tra-
zida nos cálices, mas numa garrafinha de vidro lapidado, como
um licoreiro, contendo uma dose avantajada de bebida, que
custa caro para desenrorajar os abusos. País de clima frio,
a URSS não pde aboliar o consumo de bebidas alcoólicas. Resta
às autoridades o recurso da elevação do preço como maneira
de coibir excessos.

O café é geralmente servido à moda turca: água quente
adicionada ao pó, sem coar. A bebida é turva, sendo preciso
deixá-la sentar no fundo para nãose beber o pó. A xícara fica
com um depósito de um dedo, o que para o nosso paladar é
intragável. Mas tudo é questão de gôsto, pois vi um soviético
degustar o seu café turco e em seguida saborear o pasinho com
a colher...

O café expresso, tipo italiano, também é consumido na
URSS. Passei de ônibus diante de um local onde era servido
e fiquei de volta para experimentar um cafesinho curto, mas
outros compromissos me impediram de fazê-lo. A propósito, is-
ti de ensinar o soviético a tomar café me parece um troço meio
cretino, pois cada povo toma seu café de maneira que melhor
lhe parece. Nos EE.UU. o café é tão fraco que ao ser despejado
na xíraca dá a impressão de chá, entretanto é como os ameri-
canos o apreciam e ingerem em larga escala, para imensa sa-
tisfação nossa. Depois de quatro mêses tomando êsse café, ter-
minei por me habituar ao seu paladar a ponto de ao voltar
para o Brasil achar o nosso demasiado forte e amargo. Não sei
se por ser o café nos EE.UU. mais fraco é que tanta gente lá
tem o hábito de toma-lo sem açúcar, o que também para o
meu gôsto é insuportável.

Creio que temos um grande mercado consumidor para o
café brasileiro nos 220 milhões de soviéticos, independente-
mente do processo utilizado para prepará-lo: à moda turca, à
italiana, à americana, à brasileira, ao paladar enfim de cada
um. O importante é beber café e que seja do Brasil. Aliás, ob-
servei grande consumo na URSS. Nos restaurantes, fábricas,
onde quer que chegássemos, sempre nos serviam café. Como
bom patriota, tinha sempre que topar o café, pois brasileiro

que não gosta de café é um negócio difícil de explicar lá fora. 

Um comentário:

  1. espero que requira aprovação prévia como bom stalinista, meu face está bloqueado, meu email é leo_lp3@live.com responda para ele as paradas (eu esqueci de salvar teu email e aí não tenho acesso ao inbox)

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